quarta-feira, julho 26, 2006

Das janelas imaginárias, do Príncipe, e da andorinha

Já há algum tempo que venho me esquivando de escrever, de fato.
Um rabisco aqui, um arremedo de poema ali, um textozinho acolá.E assim vão se acumulando dias, posts, números no contador. Visitantes desavisados chegam e deparam-se com rascunhos tortos, e muitas vezes partem sem qualquer noção do que aqui se passou. Da tempestade implícita na conjugação dos verbos. Do abandono desesperançado em cada parágrafo, cada vírgula, cada reticência.
Abro minhas janelas, as imaginárias, e elas dão para o enorme parque que se estende diante do palácio onde vivera o Príncipe Feliz, do conto de Oscar Wilde, com seu gigantesco jardim de gramados verdes, suas belíssimas fontes e plantas primorosamente cuidados. Em alguns momentos sou a gaivota, que voa e revoa roçando a água com as as pontas das asas para cortejar o junco gracioso, perguntando:"- Queres que te ame?" sem preocupar-me se possa parecer ridícula tal afeição.
Em outros momentos, sou o próprio Príncipe Feliz, e indago, cheia de esperanças, à andorinha que pousada em meu ombro conta-me histórias de um mundo que não posso ver: "Não queres passar mais uma noite comigo?"
Quando menina, como na foto logo acima, tão pouco eu sabia o que eram as lágrimas, desconhecia ainda as dores e amarguras da miséria deste mundo, e toda a minha preocupação resumia-se em pedalar no quintal o triciclo que dividia alegremente com minha irmã. Meu mundo era o palácio "Sans-Souci" : nenhuma preocupação roubava-me o sono, nenhum sonho mau atormentava-me as noites.
Há, apesar de tamanha beleza, uma estranha melancolia que habita meu coração.
Não é tristeza, não é desalento.Antes, um enorme desejo de voar como a andorinha, juntando-me às borboletas, sobrevoando terras estranhas e sem fim, abrigando-me exaurida em meu quarto dourado aos pés do Príncipe, ao retornar.
Toda vez que escrevo, e a pena vai tingindo o papel com as cores que lhe dou,toda vez que venho cá e abro estas janelas, de certa forma eu vôo como ela.
Resignada, sei que um dia a andorinha não mais voará.
Buscarei então outros contos, outros jardins, outras fontes, outros castelos.
Por agora, permaneço à minha janela.
Olhos dispersos, perdidos na linha do horizonte.
Rabiscando emoções que emprestei, mas que ardem em meu peito tal qual fossem minhas.
Por agora, por agora...


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Dedico este texto ao querido Dennis D. , figura ímpar, que através de seus escritos, sua poesia, sua música, seus contos e crônicas, tantas vezes abriu-me janelas ao desconhecido, proporcionando-me a maravilhosa descoberta de meu próprio caminho de Meséglise.


Secret Garden "Adagio"

2 comentários:

  1. Sabe Bia também ando na fase dos rascunhos, na verdade acho que tem muita coisa que tinha sido dada por pronta antes do tempo, melhor se não tivesse me relido, mas as vezes é preciso, assim como dar uma corrigida nos afetos incompletos.
    Fica bem!

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  2. Anônimo7:02 PM

    adorei o texto!...deixumbeijo.

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