quinta-feira, junho 22, 2006

O pecado

Atrasada.
Outra vez...
Resmungou uma frase ininteligível quando constatou por trás das cortinas, lá fora, as nuvens escuras que encobriam um sol que parecia teimar em brilhar.
Jogou-se na cama e um lampejo de arrependimento escureceu seus olhos ao lembrar do tempo que gastara em frente ao espelho para ajeitar os cabelos.
Usava-os sempre assim, presos no alto, alguns fios teimosos soltos apenas.
Cansara de ouvir: "Solte os cabelos...solte!!"
Espiou o relógio e riu consigo mesma.
Súbito, a idéia.
Não haviam as regras sido feitas para serem transgredidas?
Pois então...
Trocou os sapatos de salto pelo par de tênis já surrados, a roupa formal pelo velho jeans desbotado, cancelou compromissos, desculpou-se no trabalho.
Apanhou as chaves de casa, uns trocados no bolso, e mais nada.
Tomou o caminho da rua, sentindo-se incrivelmente mais leve.
Como se uma transgressão tola como aquela representasse a própria redenção de todos os seus pecados.
Lembrou-se de alguém que certamente diria: "Um pecado só você pode. Não faz mal."
Sorriu, e desejou ardentemente o abraço que nunca acontecera.
Um pecado.
Mais um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário