segunda-feira, junho 12, 2006

De remorsos e devaneios

"O hábito pelo qual você me sacrifica por mais esta noite será mais forte amanhã, devido ao sangue do ferimento que você causa em mim para alimentá-lo. Mais imperioso, por ter sido obedecido mais uma vez, a cada dia ele o afastará mais de mim e o forçará a fazer-me sofrer cada vez mais.
Logo terá me matado e nunca mais me verá. E no entanto você devia a mim mais que aos outros que, nos tempos vindouros, o abandonarão. Estou dentro de você, e entretanto estou para sempre afastado de você , já não sou mais quase nada.
Sou sua alma.
Sou você mesmo."

Marcel Proust (em 'Os prazeres e os dias')


«A mim pouco me importa aberta ou fechada a porta, vou entrar.
E pouco me importa estar sendo amada ou não amada: vou amar.
Que a mim me importa tanto >eu mesma e o sentimento, quanto!
A mim pouco me importa se a tua amada é doente, se a tua esperança é morta.
E me importa muito menos
se aceitas solenemente nossa vida parca e torta.
Porque a mim me importaria deixasse de ser eu mesma e a poesia.
A mim pouco me importa se a lira quebrou a corda: vou cantar.
E pouco me importa estar no picadeiro do circo: vou rodar.
Que a mim me importa tanto eu mesma e o sentimento, quanto!
A mim pouco me importa se estamos todos presos por uma invisível corda.
E me importa muito menos sermos todos indefesos ante o destino que corta.
Porque a mim me importaria deixasse de ser eu mesma e a poesia.»

Yeda Schmaltz

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