sexta-feira, maio 13, 2005

De inverno e de sombras

Deitada na cama, prestava atenção aos desenhos e formas
que as luzes da rua projetavam no forro do quarto, por entre as cortinas entreabertas.
Lembrou-se de quando era menina, e o irmão mais velho brincava de projetar figuras assustadoras nas paredes
fazendo gestos sobre a chama de uma vela no escuro do quarto.
Costumava puxar o cobertor até cobrir-se toda, deixando uma fresta apenas, por onde sondava assustada.
Muitas vezes sonhava com os monstros que enxergava nos vultos e sombras.
Naquele momento em que as sombras dos galhos das árvores adquiriam contornos sob a luz, por um instante sentiu-se menina outra vez.
Puxou o cobertor, atenta aos sons de sua própria respiração.
As sombras se moviam e era como se pequenas criaturas disformes se reuníssem e abraçassem para logo em seguida se separarem , unindo-se a outras, e outras, num círculo de movimento que não conhecia o fim.
O vento que sacudia as copas das árvores era o prenúncio da chuva esperada.
Era em momentos como este, que mesmo por uma fração de segundos, sentia-se viva , plena e feliz.
E era como se todos os problemas, todas as dores,
jamais tivessem existido.
Como se o calor do cobertor e o cheiro de sol e de flor nos lençóis e travesseiros ,fossem todo o seu mundo.
Fechou os olhos e cantarolou um trecho de California dreamin
sentindo no rosto a brisa da noite que entrava pela janela...

"All the leaves are brown...and the sky is gray...
California dreamin' on such a winter's day..."


As pequenas figuras das sombras ainda dançavam no teto ao ritmo das notas da canção que ecoava em sua mente quando seus olhos por fim pesaram rendendo-se ao sono.
Sonhou com borboletas , e acordou voando.

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