segunda-feira, junho 14, 2004

A um passo do abraço

Por pouco, muito pouco, não esquecera a razão de ser e estar ali.
Pernas afastadas, cabeça pendendo entre os joelhos, olhos injetados fitando o piso de metal do ônibus expresso.
Náuseas horríveis lhe tiravam o fôlego a cada movimento brusco, cada esquina dobrada, cada parada no sinal fechado.
Tentava distrair seu próprio pensamento, contando pés e sapatos, pernas e passos...completamente inútil.
Preocupavam-na, a possibilidade de apagar simplesmente, ali, no meio do aglomerado de pessoas estranhas de feições exaustas e introspectivas, e o fato de que não, não haveria ninguém a lhe estender a mão.
Mais um balanço, e apagaria ali mesmo, pensou, agarrando-se ao banco com as últimas forças.
Fechou os olhos, e riu, pois via estrelas que piscavam alucinadamente dentro de sua cabeça, espocando em flashes multicoloridos. Pousavam sobre ela olhares ressabiados e de contida piedade naquele momento, e isso incomodava-a ainda mais.
Ninguém...ninguém a lhe estender a mão.
Erqueu a cabeça, e viu que as luzes continuavam lá. Girando...girando.
Faltava pouco para a sua parada.
Destino: qualquer lugar.
Quando o ônibus parou, agarrou a bolsa e precipitou-se porta afora, tropeçando nos degraus da estação.
Mais um dia, mais um...
A um passo...
De um simples abraço.

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