sexta-feira, julho 07, 2006

As perdas, os danos, as sobras

Estranho como ao olhar nos teus olhos hoje, eles me revelaram bem mais, muito mais que antes.
Antes, quando eu queria e esperava tanto.
O sorriso disfarçando uma inegável falta de jeito, o costume característico de passar a mão pelos cabelos, uma, duas, diversas vezes. O nervosismo inevitável.
Te abracei como quem abraça um velho amigo, apertado.
Não soubestes como reagir ao meu abraço, então eu ri. Minha risada larga, escancarada.
Tua mão buscando a minha, ajeitava as pregas em minha blusa, brincando nervosas com o cachecol colorido.
Sentamos para conversar assim, como velhos amigos.
- Ainda bebe este vinho?
- Bebo sim, mas não agora, não aqui. Um café pra mim, preto, por favor.
- Ah...claro! Você não mudou nada, nada mesmo.
- Pudera, não faz tanto tempo assim.
- É, mas parece que faz. Eu sinto como se um século tivesse passado.

Silêncio consentido.
Um cigarro, um gole do café, teus olhos buscavam em mim aquela de antes, perdida quem sabe entre os anéis de fumaça, entre uma tragada e outra.
Meias palavras, meios sorrisos, meias verdades.
Mas terias ouvido as inteiras, se as tivesse dito, todas?
Duvido.
Perdoa se te pareço tão cínica, tão fria, tão distante.
Sim, eu sei, o abraço.
Foi só isso, o abraço.
De alguém que ouvia tuas histórias sem fim, e ria....ria muito.
Que te dava o colo quando precisavas e bebia tuas lágrimas com beijos.
Que via em ti o belo , ainda que envolto pelo desprezível.
Alguém que te amou, sim.
Como dizer que não?
Amor não se classifica.
Pretérito.
Perfeito.
Sentes falta, saudade, eu sei.
No entanto não serei eu a polir teu ego, desta vez.
Uma vez mais.
Fica então com meu abraço, e minha mal disfarçada indiferença.
Que é de mim o tudo que restou para ti.
Muda.
Fria.

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