terça-feira, janeiro 17, 2006

De onde vêm a força e a esperança

Esta pergunta tem me tirado o sono e o sossego nos últimos dias.
Como incrédula, surpreendo-me tentando acreditar em algo - que eu não sei o quê é -como fonte de todas as minhas energias e esperança que eu acreditava já perdidas.
Minha mãe já está em casa de alta hospitalar, convalescendo e provando-me uma vez mais, que tudo aquilo em que acredito é fumaça que some diante dos meus olhos.
Por exatas 8 horas (tempo aproximado que durou sua cirurgia) eu chorei a possibilidade de nunca mais voltar a vê-la, beijar seu rosto, sentir seu perfume suave que me enleva quando encosto a cabeça em seu ombro e ela suavemente me acaricia os cabelos em desalinho. Chorei em desespero, e em desespero roguei por uma força maior.
Como é duro não saber em quê acreditar.
Preocupa-me ainda sua recuperação, que é lenta e muito, muito delicada. Por outro lado, não posso deixar de rir quando na hora do banho matinal ela me diz em tom de pirraça que não quer mais brincar de ser minha filha.
Tento parecer forte quando a vontade que tenho é de ganhar colo, e chorar, apenas.
Meu referencial de força, coragem e determinação, ela agora dorme tranquila, que os analgésicos fizeram efeito e a dor rendeu-se propondo uma trégua.
Ajeito os lençóis e o travesseiro, e era eu, eu quem queria estar ali, sofrendo em seu lugar.
Não tenho medo da morte, mas a dor de sofrer me apavora.
Sempre muito reservada, acabei criando ao meu redor uma espécie de redoma que amigos e família acabavam descobrindo quase que impossível de ser transposta.
Quase...
Pessoas que eu mal conheço, e algumas que eu nunca nem vi doaram para minha mãe.
E eu chorei, mais uma vez, a minha insignificância.
Chorei por saber que sou tão pouco, e mereço bem menos, e no entanto a vida insiste em me proporcionar tanto.
Despeja-me, inunda-me, transborda-me de motivos para sorrir.
Ingrata, eu choro.
Mas não, ingratidão não!
Antes, uma inegável consciência que me toma de súbito, e da qual não há mais como fugir.
Tenho amado muito, e declarado pouco.
Tenho guardado um amor que fenece, transformando-se em poeira que o vento leva.
Sinto que mereço e de fato tenho uma nova chance.
Mas não sei se a quero. Não sei o que fazer dela.
Encerro um capítulo.
Viro a página.
Novo capítulo, novo parágrafo.
Agradecida, deslumbrada, tocada.
Ponto.
Não, não é final.
Há muita história ainda a ser escrita, muita vida ainda a ser contada.
E a força... bem, tal qual a esperança, tenho-a comigo bem perto.
De onde ela vem, permanece o mistério.
Suponho que muitos acreditem saber a resposta.
Eu não a tenho e nem a quero.
Preciso da dúvida para continuar vivendo.

11 comentários:

  1. Anônimo4:42 AM

    Oi...adorei teu blog..adoro poesias...vc escreve muito bem tb...
    Bjos

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  2. Anônimo6:21 AM

    Não sei se a lenda está certa, mas segundo consta, ela, ( a esperança) é sempre a última a morrer no coração dos homens que a tem. Mantenha sempre vivas em ti as cores da aquarela existencial que tu pintarás. Busque sempre a harmonia entre as matizes do Existir e serás verdadeiramente feliz.

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  3. Se estivesse aí, teria doado meu sangue para sua mãe também. Este post me tocou muito, também porque me identifico com o que escreveu: seria mais fácil se acreditássemos que do lado de lá da vida existe mesmo outra vida e ainda que esta força que nos move em momentos de aflição é insondável e misteriosa, mas que vem, vem. Um abraço grande deste lado do Atlântico e boas melhoras para sua mãe.

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  4. Bia,
    Às vezes, fico com vergonha de comentar, mas queria lhe dizer que também permito que a vida real e de revés invada o que decidi chamar de literatura. Sempre enxagero no dor, vc me mostra que o simples comove muito mais. Que todos estejam bem.

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  5. é isso aí, querida! bola pra frente e muita esperança!
    eu me debato por aqui, com o alzheimer da minha mãe, daí a esperança de "tudo melhorar" ser mais parca...

    um beijo, força e, caso eu esteja ausente da web (que é o que mais tem acontecido), o meu abraço apertado e carinhoso pelo seu aniversário, que é daqui a três dias, não?

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  6. Anônimo7:14 AM

    caramba
    que post tocante...
    eu morro de medo de doar sangue, alias, morro de medo de agulhas
    mas ate eu fiquei com vontade de doar!!!

    :(

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  7. visitei este espaço hoje pela primeira vez
    extremamente sensível como estou, as tuas palavras me tocaram muito forte...
    Nunca perca a esperança, é ela q nos fala de Deus, q nos leva prá frente.
    Babi

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  8. Bianca, descobri seu blog por acaso. Eu blogo desde set'05 no Mitricot e de repente ontem me veio uma vontade de criar um novo blog para separar um pouco os assuntos pois no Mitricot coloco tudo, enfim, pensei em colocar Pensamentos Imperfeitos do livro de Rubem Fonseca Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, mas quando fui concluir não foi aceito e por curiosidade digitei esse end e para minha alegria encontro um blog tão lindo. Quero ter tempo para ler o blog desde o começo. Passei por uma experiência dessas há um ano quando meu pai foi operado e, hoje, recuperado, está bem, mas sempre me preocupa a saúde dele. Quero te deixar um abraço e te desejar Força Sempre.

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  9. Oi, Bianca,

    Nao sei como vc descobriu meu blog mas gostei de tua visita...vc mora em Curitiba? Se gosta de poesia tvz possamos nos encontrar no domingo, dia 05 de março na Feira do Poeta às 11 horas. Apareça!

    beijos

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  10. Anônimo11:52 AM

    ...sim, então existe algo maior em que acreditar... amor... aquele sentimento que nos faz abrir mão de nós mesmos pelo outro, que nos faz doar tudo aquilo que temos... sim... ainda há esperança!

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  11. Anônimo12:39 PM


    Oi, descobri o teu blog a pouco tempo e tenho acompanhado alguns dias. Encantei-me com tuas palavras e pensamentos imperfeitos. Completamente impossível não se emocionar com tuas poesias, esteja ela falando sobre qualquer assunto.
    Meus sinceros parabéns.

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