quarta-feira, abril 28, 2004

O homem, o pacote, e a loucura

Sentada no banco do ônibus, chamava-lhe a atenção o homem e seu pacote pardo.
Colocara-se a elucubrar acerca do tal pacote.
Amarrotado, o papel de embrulho deixava transparecer forma e contorno do conte?do.
E se o homem fosse um terrorista, e o embrulho escondesse displicente a arma do crime
arquitetado fria e previamente?
Pediu licença, avançou seis passos em direção ao final do corredor, colocou-se estrategicamente junto à saída de emergência. A falsa sensação de segurança trouxera-lhe um quase sorriso de alívio aos lábios lívidos pelo susto que seus pensamentos lhe causaram.
Não conseguia desviar o olhar do homem com seu embrulho.
Parecia-lhe notar um certo ar sarcástico em sua expressão - estaria enlouquecendo?- e por um momento seus olhares cruzaram-se no sacolejar da condução.
Temeu veramente que ele lhe pudesse ler os pensamentos através dos olhos, e tratou de olhar em outra direção.
O homem - com o embrulho - adianta-se alguns passos, vindo em sua direção.
E se fosse uma faca , lâmina brilhante e afiada, esperando pelo exato momento da incisã precisa, carótida exposta?
Suadas, as mãos geladas procuravam apoio, os pés quase perdendo o chão.
A senhorinha preocupada pergunta se está bem e ela responde que sim, apenas um mal-estar momentâneo, talvez causado pelo movimento, o medo transformando-se em pânico.
Aceita e ocupa o lugar cedido gentilmente por ela, não sem antes lançar mais um olhar furtivo para o homem com seu embrulho pardo.
Ele percebe e retribui o olhar, avançando até ela, embrulho em punho.
Ele sorri ,um sorriso de dentes amarelos, e num pulo, ela se levanta e toca a campainha para a parada mais próxima.
Os pés ganham a calçada e ela se apressa sem olhar para trás.
Balançou a cabeça, suspirando aliviada.
Quanta gente doida solta por aí...


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