sábado, junho 17, 2006

O sonho

Você dormia, e não fosse pelo leve movimento dos lençóis macios que deixavam ver seu dorso nú, eu juraria que você não respirava.
Sentei-me na cama, olhos fechados e em silêncio, com todo o cuidado, percorri seu rosto com as mãos, decorando cada linha de expressão.
Demorei-me em seus olhos, parecia-me mais difícil memorizá-los.
Desci até o queixo, os lábios.
Inquieto, em seu sono invadido, virou-se para o lado, impaciente.
Movimentos estudados, deitei-me ao seu lado e permaneci ali, sentindo seu calor, imóvel, prestando atenção aos sons do silêncio no quarto escuro.
O pêndulo do relógio badalou no cômodo ao lado, os ecos reverberando nas paredes, em meu peito, madrugada adentro.
Uma, duas, três, quatro vezes.
A sabida hora de partir.
Músculos retesados, temia que o som das badaladas ainda que abafado pela porta fechada, o despertasse do seu sono tranquilo, e me descobrisse ali, entregue... menina, mulher, clandestina.
Susurrei um até breve em seu ouvido, entrecortado pelo soluço na garganta - simples desejo de ficar e vê-lo despertar, o sol refletido nas meninas dos seus olhos.
Por esta noite, por mais esta noite, contentara-me o sonhar.

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