segunda-feira, abril 10, 2006

Klimt e o adeus

Antes mesmo que aqueles lábios se abrissem na pronúncia da palavra sabida,
colocou-se em posição de alerta, e bateu em retirada.
Não olhou para trás, e teve o cuidado de não deixar vestígios.
Nenhum fio de cabelo perdido nos lençóis, nenhum detalhe, nem o copo de conhaque da noite anterior.
Limpou os cinzeiros, pendurou as toahas molhadas.Ajeitou as almofadas no sofá, abriu as cortinas.
Serviu-se do café recém preparado e foi até a sacada, onde despediu-se do pássaro amigo, cúmplice de tantos diálogos e gargalhadas.
Um último olhar pela sala revelou o livro de capa dura com a dedicatória quase apagada sobre a estante, que quase não coube na sacola já cheia de lembranças.
Tomou o último gole do café observando uma última vez a reprodução de "O beijo" de Klimt pendurado em frente à sua poltrona preferida.
Lembrou-se da alegria quase infantil que sentira ao resgatá-la entre objetos de formatos anatomicamente duvidosos e quinquilharias inúteis, num dos bazares das manhãs de sábado que adorava freqüentar.
Este era o único sinal que deixaria.
E ainda assim, era mais que um pedaço de si mesma, que pendia incólume e anônimo da parede.
Largou a xícara sobre a mesa, juntou suas coisas e saiu deixando a porta aberta atrás de si.
Não esperou pelo elevador, desceu as escadas.
Até este testemunhara histórias.
E ela não precisava mais de testemunhas.

3 comentários:

  1. Anônimo10:09 PM

    Interesting website with a lot of resources and detailed explanations.
    »

    ResponderExcluir
  2. Anônimo11:13 PM

    Nice idea with this site its better than most of the rubbish I come across.
    »

    ResponderExcluir
  3. Anônimo11:24 PM

    Your website has a useful information for beginners like me.
    »

    ResponderExcluir