domingo, dezembro 11, 2005

Ecos

Como se fosse o texto marcado a traços de tinta no livro antigo e esquecido, de páginas amareladas e carcomidas pelo tempo.
Como se fosse a rosa de pétalas secas, engelhadas, presas ainda ao galho que outrora sustentara-lhe o viço e a altivez carmim, ora presa por alfinetes ao quadro de cortiça na parede do quarto de sempre.
Há muito desisti de tentar explicar tais sensações.
Vivo-as apenas, hóspede insólita de mim.
Retomo a leitura de páginas marcadas, numa sequência de capítulos que se perdem desconexos e sem sentido,que se unem páginas adiante indicando-me um caminho que já sei.
Um velho laço de fita e uma foto recortada repousam, cuidadosamente ajeitados, entre as palavras. Junto delas, uma página arrancada de um antigo diário:
" Para ler de manhã e à noite:
Aquele que amo disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim.
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva."

Bertold Brecht


Fecho o livro, devolvendo-o à prateleira.
Ele me assiste, e eu a ele.
Ajeito o travesseiro.
Hoje somos muitos para dormir.
Eu e meus fantasmas.

Um comentário:

  1. Aceito as mudanças como presente de Natal. Está muito mais que lindo, se isso nos fosse possível. O festividades tragas por Dezembro, sempre faz bem as mulheres que dominam essa estranha arte de catar palavras no laço. Foi umas das melhores coisas nesse ano passear por aqui. ;) Votos de Boas Festas!

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