quinta-feira, janeiro 13, 2005

A quase história de uma trajetória de vida

Tenho recebido mensagens pedindo que eu fale um pouco mais de mim mesma. Há algum tempo atrás incluí um link na coluna aí ao lado para uma página onde fiz um breve resumo ao meu respeito.
Verdade que está um pouco escondido, e que somente as pessoas que param e se detém com interesse diante deste blog é que o encontraram.
Por este motivo decidi publicar o texto na íntegra aqui.
É bem pessoal.
É o testemunho de uma mulher já bem castigada pelas intempéries da vida, mas que nunca, nem nos piores momentos, desistiu de lutar.
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F alar sobre nós mesmos não é tarefa fácil.
Aos 35 anos e mãe de um pré-adolescente de 14 anos, ainda encontro certa dificuldade ao falar de mim mesma. Mas tento, e tentando tenho a certeza de estar sendo honesta comigo mesma. E isso me faz bem.

Nasci em Curitiba, capital paranaense, aos 13 de fevereiro de 1969. Uma autêntica aquariana , não fosse eu a cética que sou.

Mente aberta e democrática, entusiástica e entusiasmada sempre, rabugenta e chata algumas vezes. Faço mil planos, traço metas e objetivos, às vezes os mais malucos. Claro, não realizo nem 50% de todos eles. Mas eles me alimentam, e me fazem acreditar num futuro melhor.

Tenho sempre a sensação de estar com o pé no futuro. Penso sempre a longo prazo, no amanhã, e no depois, e depois de depois de amanhã. O que às vezes faz com que eu não perceba alguns dos melhores momentos no presente.

Acredito muito na instituição chamada FAMÍLIA; e apesar de não ter sido bem sucedida na tentativa de constituir a minha própria, quando me casei aos 21 anos de idade, sempre achei que o casamento era a base sólida sobre a qual ela deveria ser fundamentada.
Hoje em dia, náufraga sobrevivente de um divórcio difícil e doloroso, já superado o romantismo sonhador da época de menina, sei que nem tudo é como sonhamos.

Em 1997 , lição aprendida, decidi radicalizar e promover uma grande mudança em minha vida. Mudei-me para Miami/Flórida com meu filho Gladson, que na época tinha 6 anos. Em busca senão de uma vida melhor em termos financeiros, talvez de uma compreensão maior de mim mesma e das minhas possibilidades e capacidades.

Dependendo do olhar crítico sob o qual se analise o quadro, posso até considerar-me bem sucedida. Por quê não?

Trabalhei muito, sofri um bocado, aprendi outro tanto.

Aprendi principalmente a reconhecer minhas limitações, mesmo que ainda hoje eu encontre uma certa dificuldade em aceitá-las.

Talvez seja este um dos meus maiores defeitos: Acho sempre que posso tudo quanto quero, e quando a vida me bate de frente com uma realidade dura, não raro decepciono-me comigo mesma ao descobrir-me frágil e vulnerável.

Os subsequentes atentados de 11 de setembro de 2001 mudaram a vida de milhares de pessoas. Foi assim com os americanos, foi assim com imigrantes que viviam nos Estados Unidos. Foi assim também conosco. A essa altura já éramos cinco: eu e meu filho, e minha irmã com seus dois filhos.

Nada mais seria igual depois daquele dia, e num momento desses a única coisa que nos vem à mente, é a família. Pai, mãe, irmãos.
Não demorou muito, desde a primeira vez que nos reunimos para discutir o assunto, para que chegássemos à decisão final de retornar ao Brasil.

Brasil de todas as dificuldades e desenganos. Pátria amada, mãe gentil sempre a receber seus filhos de braços abertos. A perdoar o filho pródigo que volta ao lar.

Reconheço não ter falado nunca com tanto orgulho de meu país como quando estava vivendo lá fora. E no retorno,
Fiz valer todos os meus sonhos num único gesto de indisfarçada esperança: meu voto nas eleições presidenciais.
Decepções à parte, continuo acreditando, a despeito de todos os incontáveis motivos para desacreditar.

Em setembro de 2002, depois de uma longa espera, realizei um grande desejo meu.
Desejo este que talvez tenha sido meu maior ato de bravura: decidi-me pela realização da gastroplastia (cirurgia de redução do estomago).

Pesando inacreditáveis 136kg, juntei os últimos cacos de auto-estima que me restavam para tomar a decisão que viria a mudar minha vida de forma tão radical.

Foram momentos muito, muito difíceis.

Mas o tempo passou, e com ele, também foram passando as dificuldades.
Dois anos e três meses se passaram desde então, e pesando menos 68kg, sou sem sombra de dúvidas uma nova pessoa.
Mudança que não foi só externa, com certeza.

Há um mundo novo que se descortina ante meus olhos incrédulos e maravilhados a cada novo dia, a cada passo ainda incerto que dou.

É preciso ter coragem, sim.

Mas é preciso, sobretudo, que se tenham sonhos.

E eu os tenho.

Muitos.
Um bocado deles.
Por isso estou aqui.
Por isso abro meu coração e deixo que as palavras fluam tomando rumos e direções que desconheço.
Porque ainda acredito em mim.
Porque ainda acredito nas pessoas.
Porque ainda acredito na vida.




« A vida, a vida só é possível reinventada .»

Cecília Meireles





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